Nas lojas online de venda de produtos naturais, o pau de cabinda é descrito como um “potente afrodisíaco natural com ação imediata” que “combate problemas de impotência e frigidez sexual”.

Historicamente, esta planta de origem africana tem sido utilizada – sob a forma de chá ou de suplementos – para combater problemas de disfunção erétil e impotência nos homens. 

Aliás, num site de venda de chás lê-se que o pau de cabinda é “popularmente conhecido como o ‘viagra dos pobres’”. Mas será o pau de cabinda uma alternativa segura a medicamentos como o viagra?

Chás e suplementos de pau de cabinda são alternativas seguras ao viagra?

Vários estudos, a maioria realizados na primeira década dos anos 2000, apontam a utilização de pausinystalia yohimbine (nome científico do pau de cabinda) como um possível tratamento para a disfunção erétil. 

No entanto, esta planta acabou por ser colocada de lado no tratamento deste problema. Por um lado, devido aos potenciais efeitos secundários associados à ingestão de pau de cabinda e, por outro, devido ao aparecimento de medicamentos da família do viagra que apresentam efeitos semelhantes com menos riscos.

Em declarações ao Viral, o urologista Mário Pereira-Lourenço, especialista no IPO de Coimbra e na clínica Montes Claros e creditado pela Sociedade Europeia de Medicina Sexual, explica que “o pau de cabinda é historicamente usado em países africanos e em ervanárias e tem muito sucesso”. 

O “sucesso” referido está relacionado com o “mecanismo de ação” desta substância no organismo, que “bloqueia os recetores alfa-adrenérgicos tipo 2 e potencia uma ereção.”

No que toca aos alegados efeitos na falta de desejo ou frigidez sexual, o urologista afirma ser uma situação “difícil de provar”, uma vez que tem uma “elevada subjetividade”. 

O urologista reconhece, contudo, que quando o indivíduo “tem desejo sexual e consegue ter uma ereção, mais facilmente pode assumir uma relação sexual com sucesso e prazer”.

Uma revisão clínica, publicada em 2001, reuniu a informação científica, disponível à época sobre a utilização de yohimbine no tratamento da disfunção erétil. 

Este estudo concluiu que esta substância tem mostrado efeitos, mas alerta para os riscos de uma sobredosagem.

Mais recentemente, um artigo publicado em 2022 apresenta conclusões no mesmo sentido: a ação do yohimbine “é benéfica em várias condições médicas, como disfunção erétil, disfunção do miocárdio, distúrbios inflamatórios e cancro”. 

Porém, vários estudos relatam “preocupações toxicológicas após o tratamento com yohimbine para disfunções eréteis”, quando utilizadas doses mais altas.

As investigações referem que uma ingestão elevada de pau de cabinda está associada a efeitos secundários como hipertensão arterial, sintomas urinários, gastrointestinais, cefaleias ou priapismo (ereção prolongada). Mário Pereira-Lourenço lembra que a utilização desta substância em forma chá dificulta o controlo da dosagem. 

Devido aos “efeitos nocivos para a saúde”, o pau de cabinda foi incluído no grupo de “substância cuja utilização nos alimentos é proibida, está sujeita a restrições ou está sob controlo comunitário”, ao abrigo do regulamento n.º 1925/2006. 

Desta forma, a venda desta substância passou a ser proibida em todo o território da União Europeia desde 2019. Apesar da proibição, o pau de cabinda continua a ser vendido online.

O perigo dos “remédios naturais”

Mário Pereira-Lourenço lamenta que “os homens com disfunção erétil fujam dos medicamentos farmacológicos por causa de mitos e procurem soluções naturais, quando as soluções naturais são como medicamentos e têm riscos”. 

Perante sintomas de disfunção erétil, deverá procurar aconselhamento médico e evitar tomar suplementos ou compostos naturais sem prescrição. 

“Um suplemento não é mais saudável só pelo facto de vir da casca de uma árvore”, acrescenta o especialista, sublinhando que, na sua prática diária, não recomenda a utilização de chá de pau de cabinda aos seus pacientes.

Em conclusão, devido aos efeitos secundários associados à ingestão de pau de cabinda, a venda deste produto foi proibida na União Europeia. Outros medicamentos com efeitos comprovados e menos efeitos secundários são utilizados para tratar esta condição médica. Logo, o pau de cabinda não é uma alternativa segura a fármacos como o viagra.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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